Superação: macaense participa dos Jogos Mundiais para Transplantados

14/08/2019 08:52:00 - Jornalista: Genimarta Oliveira

Foto: João Barreto

Transplantada do coração, Lílian vai representar o Brasil em Londres

Especialista em Unidade de Tratamento Intensivo UTI), a enfermeira Lilian Alencar, de 37 anos, tem uma história de superação de vida. Há dois anos, ela passou por um transplante de coração e, nesta quarta-feira (14), segue rumo a mais uma conquista: viajar à Inglaterra, para representar Macaé nos Jogos Mundiais para Transplantados (World Transplant Games), na modalidade de natação, categoria 30 a 39 anos.

Mostrando mais uma vez sua força, determinação e empenho, com toda sua habilidade na água e dedicação, Lilian treina duas horas por dia, seis dias na semana. Em sua primeira experiência em competição, vai participar em quatro modalidades de natação: 50 metros costas e livre, 100 metros livres e revezamento 4x50 livre.

"Logo que passei pela cirurgia de transplante, fazer parte da equipe olímpica de transplantados estava na minha lista de sonhos, assim como correr na praia, dançar, brincar com meu sobrinho, andar de bicicleta e de patins e poder cuidar de mim mesma de forma a não precisar depender de mais ninguém. Coisas simples, mas que nunca pude fazer antes do transplante", contou.

Antes de se encontrar na natação, a enfermeira se inscreveu no boxe, dança, musculação, ginástica localizada. “Logo depois do transplante fui fazer diversas modalidades, era como se eu morasse em outro corpo, a sensação era de que eu poderia fazer tudo que quisesse. Não sabia nadar, mas insisti pois sempre admirei muito o esporte e hoje vou participar de uma competição que irá reunir transplantados de diversos países”, falou orgulhosa.

Doação

Servidora da Prefeitura de Macaé, atuou em várias unidades de saúde como Centro de Saúde Moacyr Santos, Pronto Socorro do Aeroporto, entre outros. Lilian e sua família sempre estão promovendo ações para estimular e intensificar a doação de órgãos. Em 2017, sua irmã organizou uma caminhada pelo Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorada no dia 27 de setembro. “Uma família, no seu momento de maior dor, autorizou a doação de órgãos de seu ente querido, que tinha finalizado sua missão por aqui. Essa família salvou minha vida”.

Ela ressalta que hoje, para ser um doador, é só falar com a família. Não é mais necessário registro em documentos. O que vai valer é a autorização da sua família. “É importante deixar isso bem claro. Hoje, quando chegar em casa, não esqueça de falar com a sua família: quero que todos vocês saibam que eu sou um doador de órgãos. Mas cada um pode exercitar sua solidariedade fazendo a doação de sangue, que é a doação de órgãos mais comum”, frisou.

Coração

A enfermeira que atuou na rede pública de Macaé descobriu um problema cardíaco em 2006, quando tinha 23 anos, miocardiopatia dilatada, uma doença grave, sem cura e progressiva.

"Foi tudo muito difícil de assimilar, pra mim e para os que convivem comigo. Tinha uma lista enorme de medicações a tomar. Estava começando na profissão e estigmatizava que aquelas medicações eram só para pacientes idosos, graves, e porque que eu, aos 23 anos, tinha que tomar aquilo?", lembrou Lilian.

Aos 35 anos chegou a fase terminal e só um transplante poderia salvá-la. Passou três meses em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e, segundo os médicos, tinha pouco tempo de vida. Até que no dia 15 de setembro de 2017, no INCOR de São Paulo, uma família autorizou a doação de órgãos de um rapaz de 18 anos. Além de Lilian, o jovem salvou mais 7 pessoas.

Durante 11 anos, Lilian conviveu com insuficiência cardíaca causada pela doença, cansaço e falta de ar aos pequenos esforços. Coisas do dia a dia como tomar banho e lavar louça a provocavam um cansaço enorme. “Com a evolução da insuficiência cardíaca, ao acabar de arrumar minha cama parecia que tinha acabado de fazer uma corrida.”

Mundiais

A competição, que acontece a cada dois anos com sede em países diferentes, existe desde 1978, com participantes de 4 a 80 anos, transplantados de coração, fígado, pulmão, rim, pâncreas, medula óssea e doadores.

Os jogos atraem cerca de 1.500 atletas de mais de 69 países que, além de representar o seu país de origem no Arco e flecha, Atletismo e Corrida, Badminton, Basquete 3x3, Boliche, Ciclismo, Dardos, Futebol, Golfe, Natação, Peteca, Tênis de Mesa, Tênis, Triatlo, Squash e Vôlei, também estimulam a celebração à vida com vários eventos sociais e culturais além da competição.

Brasil 2019

O Brasil chega aos Jogos Mundiais para transplantados com 22 atletas sendo 19 transplantados e 3 doadores (2 doadores de medula e 1 doador de rim). Marca inédita de número de atletas superando os 6 atletas que participaram da competição em 2017 que aconteceu em Málaga na Espanha.

Dos atletas transplantados, 9 transplantados de rim, 5 de medula óssea, 2 de pulmão, 2 de coração e 1 de fígado. Os competidores são de diversas partes do país: Brasília/DF, Campo Grande/MS, Florianópolis/SC, Fortaleza/CE, Palmas/TO, Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro (Macaé e Capital), São Sebastião do Caí/RS, Teresina/PI e São Paulo (Campinas, São Caetano do Sul, São José dos Campos, Sorocaba e Capital).


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