Morte em Veneza em cartaz no Ciclo de Filosofia e Cinema

13/11/2008 09:47:36 - Jornalista: Marilene Carvalho

O Ciclo de Palestras Filosofia e Cinema, promovido pelo Centro de Estudos Claudio Ulpiano (CcUlp) em parceria com a secretaria de Acervo e Patrimônio Histórico de Macaé (Semaph), exibe nesta quinta-feira, 13, às 19h, no Solar dos Mellos, o filme Morte em Veneza, de Luchino Visconti. A apresentação é seguida de palestra, com comentários do cineasta carioca Eduardo Goldenstein. O projeto foi iniciado em abril trazendo para o público a proposta de um olhar diferente sobre o cinema. A entrada é franca.

Eduardo Goldenstein é o convidado do mês de novembro para o Ciclo de palestras sobre Filosofia e Cinema. Diretor, roteirista e produtor, ele foi um dos inúmeros artistas influenciados pelas aulas de Claudio Ulpiano, trocando o Direito pelo cinema, após freqüentar por muitos anos os cursos ministrados no Rio de Janeiro pelo pensador macaense, falecido em 1999. Após a apresentação de Morte em Veneza, Goldenstein dará a palestra “Por um Cinema do Tempo Puro”, onde fará comentários sobre o filme.

Atuante no audiovisual brasileiro desde 1996, Eduardo Goldenstein realizou, escreveu e dirigiu cinco curtas-metragens, exibidos em vários festivais de cinema no Brasil e no exterior, com os quais recebeu diversos prêmios. Destaca-se em sua filmografia o curta "Truques, xaropes e outros artigos de confiança" (35mm - 2003), que participou das seleções oficiais dos Festivais de Berlim, Huesca, San Sebastian (foco Brasil), Rio, Brasília, Recife e Belo Horizonte, dentre outros. O filme foi agraciado com prêmios de melhor direção (Belo Horizonte e Curitiba), melhor roteiro (Brasília e Recife), melhor filme (Fest. de Cinema Brasileiro de Paris), e melhor atores (Brasília e Recife).

Seus primeiros 3 curtas são inspirados na obra de Herman Melville ("O Copista", "O Vendedor de Pára-Raios" e "Truques, xaropes..."). "Malasartes vai à feira" (super 16mm - 2004), foi realizado através do edital Curta Criança - Min. da Cultura / Tve - Rede Brasil, e veiculado em rede nacional.
Goldenstein é graduado em Direito pela UERJ, cursou o Workshop Intensivo de Cinema na Universidade de Nova Iorque e aprimorou sua formação em cinema ao longo dos anos freqüentando cursos de Direção, Documentário, Fotografia e Roteiro. Sua área de atuação encontra-se basicamente no cinema cultural - longas, curtas e documentários, bem como em filmes institucionais. Fundou a produtora Aion Cinematográfica em 1997, e é sócio da produtora 3 Tabela Filmes.

Morte em Veneza (drama-1971) - Sentado numa cadeira de praia, de frente para o mar, o músico Aschenbach observa Tadzio, o menino-emblema, expressão da beleza e signo revelatório, entrar na água. O quadro é fixo, aberto, dividido ao meio pela linha da horizonte, e nele vê-se sobre a areia uma câmera fotográfica montada num tripé, colocada de perfil no canto direito, cuja lente repousa sobre a linha do horizonte, e o menino Tadzio, ao fundo, entrando no mar. De repente o menino pára, olha para trás, na direção de Aschenbach, e aponta para o horizonte, num gesto totalmente inesperado, ao mesmo tempo em que os reflexos do sol na água do mar tornam a imagem translúcida. O velho músico, que por toda sua vida acreditou numa arte que seria produto exclusivo do intelecto humano, tem neste momento a revelação final do encontro entre a beleza sensual e o tempo. Mas o último grão da ampulheta acaba de passar, e já é tarde demais para se buscar qualquer outro caminho. Inutilmente ele ainda tenta num último esforço alcançar Tadzio, tomado pela vertigem da beleza, mas cai morto em sua cadeira. Esta descrição corresponde ao plano final do clássico de Visconti, "Morte em Veneza".

– Dentre as inúmeras imagens diretas do tempo que encontramos ao longo da história do cinema, essa é a primeira que me ocorre, por ter sido através deste filme que a porta do cinema-tempo se abriu para mim. Nela podemos encontrar a potência expressiva que só os grandes cineastas conseguem alcançar, quando marcam o cinema com um devir-pintura, mantendo a câmera fixa para que possamos apreender a dimensão temporal, o espírito. Sob a orientação de Claudio Ulpiano começei a estudar Visconti, a estudar cinema, a estudar Deleuze, até chegar num ponto indiscernível no qual teoria e prática se encontraram. Se é através do cinema que exercito minha vida, devo isso a estes encontros fundamentais que fiz, e que continuam a me instigar na procura de uma expressão cinematográfica – adianta o palestrante.