Consciência Negra: festas e reflexões atraem bom público

21/11/2008 14:24:27 - Jornalista: Andrea Lisbôa

Macaé comemorou o Dia da Consciência Negra com eventos diversificados em praça e no Teatro Municipal. Ainda na quarta-feira (19), após as duas sessões no teatro do monólogo musical “O Cheiro da Feijoada”, a atriz Iléa Ferraz propôs uma reflexão ao público formado em sua maioria por estudantes. Já no dia 20, o mestre Dengo, com a Raízes de Aruanda, fez a festa na praça do Visconde de Araújo. Enquanto isso, no Teatro Municipal, a bateria, sambistas e baianas do Império Serrano fizeram o público sambar.

O encerramento da festa do Dia da Consciência Negra, em homenagem ao símbolo da resistência à escravidão e da luta pela dignidade dos descendentes de africanos, Zumbi dos Palmares, foi animada pela bateria, baianas e mestre-sala e porta-bandeira do Império Serrano. Quando tomaram o palco, o público presente ao show “Todo Menino é um Rei – Tributo a Roberto Ribeiro” sambou na platéia e em frente ao palco. A bateria interagiu com os espectadores, que respondiam com gritos e aplausos.

Alex Ribeiro, filho de Roberto Ribeiro, interpretou os sucessos do pai. Foram convidados os parceiros de Roberto, Monarco (da Portela) e Décio Carvalho, principal parceiro de Dona Ivone Lara. Além dos muitos tipos de samba interpretados por músicos e percursionistas do Império, duas bailarinas da comunidade da Serrinha, no Rio de Janeiro, apresentaram o jongo. O show a R$ 1 foi promovido pela Fundação Macaé de Cultura, por meio do Ação Macaé Cultural, edital público de seleção de projetos culturais.

Também a R$ 1 custou o ingresso para a peça “O Cheiro da Feijoada”, com Iléa Ferraz. O monólogo apresenta uma narração de Mãe-preta, que conta uma história da época da escravidão ao som de berimbau, atabaque e percussão.

O texto apresenta o sofrimento, a opressão e a discriminação sofrida pelos negros escravos. Ao mesmo tempo, mostra como os afro-descendentes não deixaram que sua cultura se perdesse, fazendo com que ela resistisse com o surgimento do samba e da feijoada, referências do Brasil. “Um prato feito de misturas, com o povo brasileiro”, enfatizou Iléa. No fim do espetáculo, ela propôs uma reflexão com a platéia formada por maioria de estudantes. O público homenageou Zumbi com longos aplausos de pé.

Luta pela igualdade
e valorização cultural

Concomitante as comemorações no Centro Macaé de Cultura, na praça do bairro Visconde de Araújo, a festa do Dia da Consciência Negra foi organizada pela Academia de Capoeira Raízes de Aruanda, fundada por Dengo em 1999 e presidida por ele, que é mestre de capoeira há 35 anos. As atividades começaram à tarde: samba de raiz, roda de capoeira e fala aberta para exposição de trabalhos relativos à africanidade e sobre religiões de matrizes africanas.

À noite, aconteceu uma celebração quilombola, ao som de berimbaus, atabaques e cantos. “Pedimos paz, saúde e não-discriminação e preconceito”, explicou o mestre Dengo. Ao lado da quadra de eventos, barracas expunham artesanato, fantasias de escolas de samba e vídeos e também vendiam comidas típicas quilombolas: feijoada, caldo verde, angu e dobradinha, atraindo um bom público à praça.

Há mais de 20 anos, mestre Dengo realiza a comemoração dessa data em praças da cidade. Pela segunda vez comemora no Visconde de Araújo; a primeira vez foi em 1992. Sua academia no Sol y Mar conta com mais de 100 alunos de 8 anos a terceira idade. A instituição sem fins lucrativos e conveniada à prefeitura desenvolve trabalho social de inclusão através da capoeira. Além dos treinos, a instituição utiliza vídeos, palestras, samba de roda e maculelê com o objetivo de valorizar a cultura de origem africana.

Segundo Dengo, os principais objetivos do evento são o fortalecimento e o resgate cultural. “Não estamos aqui para dizermos que somos melhores ou piores, ou somente para fazermos a diferença. Simplesmente estamos aqui para lutar pela igualdade”, disse.