Educação: 'Dupla Excepcionalidade' é tema de palestra na rede municipal

21/08/2015 17:02:00 - Jornalista: Joice Trindade

Foto: Waleska Freire

Cerca de 70 profissionais das 45 salas de recursos multifuncionais participaram

Cerca de 70 profissionais das 45 salas de recursos multifuncionais e os que atuam no Centro Especializado de Apoio ao Escolar (Cemeaes) participaram da formação continuada voltada aos profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) das 104 escolas municipais. O evento aconteceu nesta sexta-feira (21), no auditório da Secretaria de Educação, e contou com a palestra “Dupla Excepcionalidade: Quando alta habilidade ou superdotação pode ser 'escondida'”.

O tema foi ministrado pelo professor de salas de recursos do Pará e mestrando em Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense (UFF), Adriano Pinho. Ele destacou o significado da nomenclatura dupla excepcionalidade (superdotação ou altas habilidades). “Este assunto ainda é novo no país. Estudos apontam o perfil de pessoas superdotadas com dificuldades de aprendizagem no ano de 1923”, lembrou, ao frisar que, no Brasil, este termo ficou conhecido em 2005.

Adriano Pinho aprovou a iniciativa da rede municipal em destacar a importância do assunto. “Trouxe para Macaé uma reflexão de como identificar alunos com superdotação ou altas habilidades que encontram obstáculos no processo de ensino. Sabemos que o diagnóstico é delicado, mas diante disso, o foco dos professores deve ser voltado para duas vertentes: sanar questões ligadas às habilidades e dificuldades. O profissional do AEE deve ter olhar criterioso e atento na sala de recursos para trabalhar com estudantes que apresentam altas potencialidades, dificuldades ou outra condição”, pontuou.

Segundo o secretário de Educação, Guto Garcia, a pasta investiu na educação em prol da diversidade. Na ocasião, anunciou que até o mês de novembro será realizado o Seminário de Perspectiva Inclusiva.

Os participantes elogiaram o diálogo com Ricardo Moreira, que apresenta dupla excepcionalidade e síndrome de Asperger. Formado em Biblioteconomia e Arquivologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), detalhou sua vida junto com a mãe, Georgina Moreira. O servidor público federal é acompanhado por integrantes do curso de Mestrado de Diversidade e Inclusão, sob a coordenação da professora Cristina Delu.

Mediado por Lucieid Garcia, coordenadora de área de Altas Habilidades ou Superdotação e Transtornos Globais de Desenvolvimento na rede municipal, o bate papo foi marcado pela apresentação de Ricardo. Ele demonstrou memorização do sistema de transporte do Rio de Janeiro, São Paulo e São Gonçalo; placas de veículos de empresas de ônibus e dados de jogos do campeonato “Brasileirão” como placares e campeões.

- Agradeço o apoio de meus familiares e a equipe da UFF. Fiz faculdade, trabalho e sou respeitado diante da minha condição. Temos nossos limites, mas conseguimos atuar em várias frentes, falou.

Já a mãe Georgina Moreira disse que outras cidades devem ter a rede municipal como exemplo. “Tenho dois filhos com síndrome de Asperger e dupla excepcionalidade, o Robson e o Ricardo. Eles têm 32 anos e toda esta caminhada não foi fácil. Hoje, a inclusão é encarada com respeito, mas sabemos que este estudo deve ser ainda mais específico”, comentou.

A síndrome é uma condição psicológica caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Difere de outros transtornos do espectro autista pelo desenvolvimento típico da linguagem e cognição.

Aprovação - As professoras que atuam nas salas de recursos, Sílvia Martins e Ângela Manhães, afirmaram que a formação é essencial para o dia a dia. “Este é um tema novo que deve ter um olhar diferenciado. Precisamos contar com formações que contribuem com nossa prática pedagógica. Oportunidades assim são essenciais na nossa caminhada”, observaram.

Para o subsecretário de Educação e Atendimento Especializado ao Escolar, Adriano Marques, a inclusão é importante e merece apoio da sociedade, que deve ser conscientizada sobre a questão. “Fico honrado de trabalhar em um sistema de ensino com profissionais empenhados. O objetivo da nossa subsecretaria é transformar em prol da melhoria da qualidade do ensino. Contamos com profissionais no Atendimento Educacional Especializado, Coordenação Multifuncional, Centro Especializado de Apoio ao Escolar e Programa Saúde na Escola. A proposta é primar pelo desenvolvimento e formação integral do aluno, respeitando suas especificidades”, ressaltou.

Educação Especial - Hoje, a rede municipal conta com 45 salas de recursos multifuncionais. Segundo dados da rede, mais de 530 alunos são beneficiados pelo Atendimento Educacional Especializado. Deste total, 160 estudantes estão em avaliação quanto ao atendimento. Conforme a coordenadora da Educação Especial, Regina Signe, as salas contam com mobiliários e materiais adequados como jogos direcionados, kits de desenho geométrico, prancheta de leitura, guia de assinatura e microcomputadores.