Funemac fecha curso de pós-graduação com palestra

01/12/2008 15:34:01 - Jornalista: Graziele de Marco

Com a palestra África Pós-Independência: Perspectivas e Relações com o Brasil, proferida pelo diplomata Antônio Augusto Martins César, a Fundação Educacional de Macaé (Funemac) encerrou as atividades culturais da Pós-Graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e civilização Africana. O evento foi realizado no dia 28 de novembro, às 18h30, na Câmara dos Vereadores.

Antônio Augusto Martins César, que também é chefe da divisão África I do Itamarati, iniciou observando o fato da África ser um continente com países que possuem semelhanças históricas, o que facilita a tentativa de uma análise em conjunto. “No Ministério de Relações Exteriores fazemos um recorte do continente africano para desenvolvermos nossas atividades. Procuramos colocar todos os países de língua portuguesa no mesmo recorte, por suas semelhanças”, disse, lembrando que um dos mais complicados devido aos seus processos de independência é o chamado setor verde onde figuram países como Argélia, Tunísia e Marrocos.

O diplomata observou que em todo o continente africano, é marcante o fato de possuir o que chamou Estados Não Hegemônicos. Segundo ele, nesses países a autoridade central não consegue projetar poder em todo o território e a infra-estrutura é deficiente. “Em alguns momentos o estado não tem a pretensão de estar em todo o país. Isso é uma herança do período colonial, quando o projeto hegemônico não era prioridade”.

Outra característica marcante dos países que compõem a África é que os laços entre Estado e sociedade Civil são fracos, com formação de uma elite governamental. Nesses locais, há fortes laços entre poder e riqueza e a mobilidade social é baseada nos vínculos com o Estado. “Vemos nascer uma burguesia burocrática, onde a mudança de status social não está na criação de empresas privadas, mas no relacionamento com governo”.

Também é possível notar em todo o continente que há uma forte dependência no setor primário e na exportação, que em geral é de monoculturas. “Falta mão-de-obra qualificada. O Estado logo após a independência se depara com essa situação: há uma conformação do ponto de vista da vitória de libertação, mas logo depois depara-se com Estado que não existe e demandas que não podem ser respondidas com a referência à colônia”, ressaltou. São diversas as tentativas de resposta, mas acima de qualquer uma, o elemento mais importante é o nacionalismo e a idéia de que o país deve ser mantido como unitário. “É notável que há grande variedade tribal, étnica e religiosa que poderia servir de força para uma pulverização”.

O diplomata lembrou, no entanto, que a idéia de nação, que mantém os países africanos, também gerou inúmeros problemas. “Durante a colonização foram traçadas fronteiras arbitrárias, que se mantiveram quase da mesma forma após a independência. Nesses moldes, a idéia de nação não se encaixa, mas é resultado desses elementos. A pluralidade é sacrificada em nome da unidade nacional e do desenvolvimento econômico”.

Durante a abertura, o presidente da Funemac, Joelson Tavares, falou um pouco sobre o curso. “Esta Pós-graduação foi um projeto ousado, e muito importante que tem recebido todo o apoio da Fundação. Para as aulas e palestras foram recebidos, em Macaé, profissionais renomados de todo o Brasil que abordaram o tema de que trata o curso”. O curso foi estruturado em módulo e a cada um foi realizado um ciclo de debates com palestra de profissionais conceituados, com trabalhos desenvolvidos em temáticas relacionadas ao curso.