Guardas iniciam aprendizado após os 60 anos

03/07/2007 14:29:07 - Jornalista: Cláudia Liese

Vinte guardas seniores iniciaram na segunda-feira (02), curso de Educação Básica na Guarda Municipal de Macaé, através do Programa de Educação de Jovens e Adultos – EJA, modalidade de Educação Básica.

No Brasil são mais de 65 milhões os jovens e adultos que não concluíram o ensino básico. Desses, 30 milhões não freqüentaram nem os quatro primeiros anos escolares — são os chamados analfabetos funcionais. Cerca de 16 milhões não sabem ler nem escrever um bilhete simples. O país tem apenas 19 municípios — dos mais de 5,5 mil — com média de escolarização acima de oito anos. Os dados do Censo Escolar 2003 mostram que a situação vem melhorando. O Censo aponta o crescimento de 12,2% nas matrículas de jovens e adultos na rede oficial. São mais de 4,2 milhões de pessoas que voltaram a estudar, sem contar outras 730 mil atendidas por movimentos populares, empresas, sindicatos ou organizações não governamentais.

O entusiasmo era predominante nos agentes da guarda sênior que esperavam, com ansiedade, o início das aulas. Amaro da Silva Ribeiro, de 71 anos, é um dos agentes que iniciaram a alfabetização.

- Parei de estudar no primário porque meu pai faleceu e minha mãe não conseguia cuidar sozinha de 11 filhos. Fui trabalhar. Estudar é muito bom, estou muito feliz com esta oportunidade. Quero poder ler e escrever com segurança, fala, emocionado.

O diretor-presidente da Guarda Municipal de Macaé, Antônio Franco destacou a força de vontade do grupo de terceira idade.

- O jornal Correio Braziliense em uma de suas edições conta à história de uma pessoa da terceira idade, Terezinha, que se formou doutora aos 80 anos. Com dificuldades financeiras, Terezinha só estudou até o quinto ano primário. Bem cedo começou a trabalhar, para ajudar no sustento da casa. Às vésperas de completar 77 anos de idade, ela passou no vestibular de história, na Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Aos 80 anos, terminou o último semestre do curso. Passou em todas as disciplinas. Com mérito. A força de vontade é que faz a diferença entre as pessoas. E isso é que mostramos aos nossos agentes: eles precisam ter vontade para mudar e com nossa ajuda eles têm mudado para melhor muitas coisas em suas vidas.

A coordenadora da Guarda Sênior, Elaine Chança fala da importância do curso para os maiores de 60.

- Todos eles trabalharam muito, não tiveram tempo de estudar, o que faz com que a auto-estima fique bem baixa. Eu estudei, agora posso dar oportunidade, através do Programa Guarda Sênior, a todos que não sabem ler e escrever e querem aprender. Com certeza eles sairão daqui se sentindo mais valorizados, com mais forças e esperançosos, destaca Elaine.


Muitos filhos e trabalho são as maiores causas de exclusão escolar

Outra agente da Guarda Sênior Georgina Guimarães da Motta, de 61 anos, conta que parou de estudar na terceira série, trabalhou muito e teve 10 filhos. “Sempre trabalhei muito, não tive oportunidade de estudar. Hoje que estou aposentada e participando deste Programa, que é uma benção para todos nós, volto a estudar. Isso mostra que todos nós devemos ter esperanças, as coisas mudam. Quando eu ia imaginar que um dia eu teria oportunidade de aprender a ler? Eu que já tenho mais de 60 anos. A vida não está fácil para ninguém, mas sempre devemos esperar melhoras, novidades, porque assim a esperança trará coisas boas para nossas vidas”.

Ela foi a Escola, mas nem se lembra quanto tempo estudou. Marluce Maria da Silva, de 63 anos, teve cinco filhos e não teve tempo para estudar. Ela afirmou que está muito entusiasmada em poder aprender a ler e escrever.

Um dos mais entusiasmado Valcy Tenório, de 67 anos, que estudou até a segunda série, fez questão de dar seu depoimento. “Quero que você coloque aí que Dr. Antônio (diretor-presidente da Guarda Municipal de Macaé) e Elaine (coordenadora da Guarda Sênior) estão dando a oportunidade que não tivemos. Eles estão proporcionando a todos nós uma vida com mais satisfação, com mais esperança de termos um futuro. Quando chegamos a uma certa idade parece que tudo acabou e quando outras pessoas nos mostram que ainda podemos muito, faz com que nos sentimos vivos e atuantes, com esperanças de ainda acontecer muitas coisas boas em nossas vidas”.