Pescadores voltam a discutir sobre pesquisas sísmicas

23/03/2009 15:54:34 - Jornalista: Alexandre Bordalo

Pescadores das regiões Norte Fluminense e dos Lagos estão unindo forças para discutir assuntos referentes a ações compensatórias sobre os efeitos da pesquisa sísmica. Na última sexta-feira (20), representantes de colônias de pesca, de associações de pesca e de prefeituras de Macaé, Campos, Arraial do Cabo, São Fidélis, São João da Barra, Carapebus, além das localidades de Atafona e Farol de São Tomé, estiveram reunidos na Câmara de Vereadores de São Francisco de Itabapoana.

Durante os períodos da manhã e da tarde, cerca de 100 pessoas assistiram a palestras e participaram de debates a respeito de diversos assuntos sobre pesca. No encontro, foi formada comissão de trabalho com um representante do poder público e outro dos pescadores de cada cidade em questão. O objetivo é lutar pelo fortalecimento da pesca como atividade econômica importante e que seja capaz de gerar trabalho e renda nos municípios.

- Haverá uma reunião no próximo dia 31 em Macaé, quando discutiremos a questão da pesquisa sísmica, seus impactos, conseqüências e políticas compensatórias – disse o consultor da prefeitura de Macaé, Orlando Thomé Cordeiro. Ele frisa que a criação dessa comissão de trabalho representa maturidade tanto de pescadores quando do poder público. “Já que é necessária a promoção de trabalhos em conjunto em torno de uma visão de futuro com muita ousadia”, afirma.

Já o secretário de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Cliton da Silva Santos, comentou que sua pasta está atuando no sentido de unir a classe pesqueira por intermédio de apoio, participação nas discussões e auxílio de consultoria. “Os pescadores, em função dessa reunião, tiveram avanço no que diz respeito à união para enfrentar desafios, tais como: a contrapartida da pesquisa sísmica, a luta pelo seguro-desemprego referente ao defeso, a contrapartida da Petrobras no passivo que ela tem com a classe pesqueira”, pontua ele.

O subsecretário de pesca da prefeitura de Macaé, José Carlos Bento, lembrou que esse movimento que hoje envolve diversas cidades da Região dos Lagos e do Norte Fluminense teve início em Macaé. “Fomos os pioneiros. Recebi o informe da Petrobras no final de janeiro de 2009 dizendo que pesquisas sísmicas seriam realizadas no litoral onde trabalhamos como pescadores e, com apoio da secretaria de Desenvolvimento Econômico, começamos esta luta, fazendo reuniões na Câmara Municipal de Macaé, em São João da Barra e agora em São Francisco de Itabapoana”, conta ele.

Entre as palestras que pescadores e membros das prefeituras assistiram, esteve a que tratou sobre sísmica, proferida por Paulo Oliveira – diretor de pesca e fiscalização da secretaria de pesca de São João da Barra, vice-presidente da Associação de Pescadores de Atafona e engenheiro de pesca.

Segundo disse, a pesquisa sísmica é realizada no fundo do oceano para descobrir a presença de petróleo e gás. “Seis cabos vão ao fundo do mar, emitindo ondas sonoras para as diversas camadas do subsolo. Elas atingem até sete mil metros abaixo da terra, sob as águas. A cada camada do subsolo a onda retorna ao navio sísmico para efetuação da leitura”, explica ele.

De acordo com Paulo Oliveira, devido a esta pesquisa, peixes como peroá, guaibira e salema ou solteira já desapareceram, enquanto pargo, cação grande, pescado e curvina diminuíram significativamente no litoral fluminense. “Essa pesquisa também influencia o Meio Ambiente, uma vez que a rota migratória de golfinhos e baleias é alterada. O itinerário para desova das tartarugas também é modificado”, avisa o engenheiro de pesca.

Ele ressaltou que as pesquisas sísmicas tiveram início em meados da década de 90, ocasionando prejuízos ao Meio Ambiente, ao setor sócio-econômico e às comunidades que vivem da pesca. “São várias as empresas que fazem a pesquisa. No próximo mês de setembro será realizada em águas mais rasas, fato que vai atrapalhar a navegabilidade de embarcações da frota pesqueira”, denuncia.

Outra palestra ocorrida no encontro foi ministrada pelo superintendente da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), Jayme Tavares Ferreira Filho. “Vim aqui apresentar a política de territórios de pesca que visa criar na região Norte-Fluminense condições favoráveis para o desenvolvimento da pesca, com a participação de todos que têm inserção no mundo da pesca”, justifica.

Como exemplo de parceiros que atuam em favor do pescador, ele citou universidades, Petrobras, associações, colônias, prefeituras, órgãos governamentais, Banco do Brasil, ONGs e outros. Jayme Filho conclui acrescentando que essa política verá quais os equipamentos necessários para cada cidade. Fábrica de gelo, fábrica de ração, entreposto de pesca são algumas das ações que o Governo Federal poderá dispor em seus projetos para os municípios.