Teatro do Oprimido de Macaé ocupa a Lapa

02/06/2010 17:30:14 - Jornalista: Monica Torres

Foto: Divulgação

Grupo teatral “Tô Fazendo Arte”, de Macaé

O grupo teatral “Tô Fazendo Arte”, de Macaé, esteve presente na Mostra de Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto, na Lapa, Rio de Janeiro, nos dias 28 e 29 de maio. O Grupo tem sede na Escola Municipal Samuel Brust, no bairro Fronteira, e foi convidado a participar de um evento internacional que contou, além de teatro, com performances, shows musicais e intervenções estéticas.

Como afirma a assistente social do Programa de Saúde Mental, da Secretaria Municipal de Saúde Janaína Almeida, que atua no “Tô Fazendo Arte”, o grupo “se sentiu bastante honrado quando surgiu o convite para participar do evento no Rio de Janeiro”. Ela ressalta que a cena apresentada foi “O Impasse”, que discute a violência doméstica a partir da experiência cotidiana dos próprios participantes do grupo. Janaína lembra, com emoção, da reação do público: “Nos sentimos recompensados ao sermos aplaudido de pé por todos os presentes; foi muito contagiante.”

Outra participante do grupo, a técnica de enfermagem Sabrina Carvalho esclarece que o “Tô Fazendo Arte”, formado por adolescentes da escola Samuel Brust, atua em diversas comunidades, mostras e escolas, em parceria com o Programa Saúde da Família (PSF) do município.

- Na escola, obtivemos total apoio da direção para que desenvolvêssemos as oficinas, ensaios e apresentações. Daí foi que surgiu o “Tô Fazendo Arte”, há um ano, composto por adolescentes de onze a treze anos. São eles: Jenifer, Tácila, Lucas, Felipe e Denis, todos alunos do ensino fundamental da Samuel Brust.

O dia (29) em que o “Tô Fazendo Arte” se apresentou na Mostra de Teatro do Oprimido, na Lapa, além do grupo de Macaé, participaram grupos de Fortaleza e Sergipe. Intitulado “Curumim ocupa a Lapa”, somente se apresentaram, neste dia, esquetes interpretadas exclusivamente por crianças e adolescentes, cujos temas tinham relação com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Tanto a técnica de enfermagem, Sabrina Carvalho, como a assistente social, Janaína Almeida, ressaltam que a participação do grupo no evento foi possível com o apoio do Centro de Teatro do Opromido-Rio, no que se refere a transporte, alimentação e estadia. O grupo também conta com o apoio da Prefeitura de Macaé, por intermédio da Coordenação de Saúde Mental, da Secretaria Municipal de Saúde.

- Temos certeza que foi uma experiência única na vida desses adolescentes que vivem uma realidade sofrida, mas que acreditam ser possível mudar. Nós, profissionais, também acreditamos; anima-se a assistente social.

O terapeuta ocupacional e coordenador do Caps Betinho, Julio César Pereira, presente no evento, emociona-se ao falar da apresentação do grupo de Macaé “Tô Fazendo Arte”: “Apesar da pouca idade do grupo, a apresentação foi muito alegre, madura e arrebatou o público com uma brilhante interpretação. Impossível narrar a sensação despertada pelo trabalho que eles realizaram. E finaliza: “Foi muito bom ver Macaé com um trabalho tão qualificado.”

O Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto

Nestes dois dias, dezoito estados brasileiros e quatro países africanos (Moçambique, Guiné Bissau, Angola e Senegal) se apresentaram no Projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto. Na ocasião, aconteceram as mesas de debates “Corpo feminino como território do sagrado e do poder, da ancestralidade ao século XXI” e “Estatuto da criança e do adolescente”.

Na noite de 27 de maio, na casa do Centro de Teatro do Oprimido, aconteceu o lançamento do documentário “Metaxis – Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto”, que apresenta um panorama das atividades do CTO, entre 2008 e 2010, em cidades do Brasil e da África.

O público troca de lugar com os protagonistas

As pessoas que acompanharam os dois dias de mostras teatrais tiveram a oportunidade de subir no palco e mudar o final da história. Nas peças de Teatro-Fórum (técnica do Teatro do Oprimido), após cada apresentação, os espectadores são convidados a trocar de lugar com o protagonista para sugerir alternativas ao problema encenado. O espectador da sessão de Teatro-Fórum não é um consumidor do bem cultural, mas sim um ativo interlocutor que é convidado a assumir o papel do oprimido ou de seus aliados para interagir na ação dramática, de maneira a apresentar alternativas para transformar a realidade – ser ator de sua própria vida.

O Teatro do Oprimido de Augusto Boal

“Ser cidadão não é viver em sociedade, é transformá-la”; com esta frase emblemática do teatrólogo brasileiro Augusto Boal, idealizador do Teatro do Oprimido, o método segue atraindo cada vez mais adeptos com um método que reúne exercícios, jogos e técnicas, cujos principais objetivos são a democratização dos meios de produção teatrais, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da realidade através do diálogo e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica para a preparação do ator, com grande repercussão mundial.
A origem do TO remete ao Brasil das décadas de 60 e 70, mas o termo é citado textualmente pela primeira vez na obra Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Este livro reúne uma série de artigos publicados por Boal, entre 1962 e 1973, e pela primeira vez sistematiza o corpo de idéias do teatrólogo. O Teatro do Oprimido é uma prática de arte politizadora que abre espaço para a manifestação expressiva dos participantes, pois tendo como uma de suas prioridades a não priorização em formar atores profissionais, mas, sim, protagonistas sociais, cidadãos conscientes de direitos e deveres, da sua dignidade e com autoestima elevada e fortalecida.