Foto: Ana Chaffin
Império da Barra vem se preparando para o carnaval 2012
Muchachas e muchacos vão se esbaldar na Linha Verde, vestindo o amarelo, o branco o azul e o vermelho da Império da Barra. O Grêmio Recreativo, com o presidente Dudu, traz para a passarela, sexta-feira (2/03), os cheiros, os ritmos, os sabores e crenças da ilha mais famosa do Caribe – a Cuba liberta comunista, sonhada pelo médico argentino Ché Guevara e por Fidel Castro (pró União Soviética) e a governada por seu antecessor Fulgêncio Batista (aliado de Tio Sam), passando pelo atual comandante Raul Castro, que de vez em quando faz declarações de amor à democracia.
Conversei com o carnavalesco Cleber Braz, detentor de cursos de desenho em seu currículo, o coreógrafo Leandro Bastos, formado em Educação Física e dança contemporânea, bbalé clássico e o mestre oficial de bateria Igor de Azevedo. Os três, como é óbvio, acreditam na vitória, e falaram com muita emoção do trabalho que vêm desenvolvendo para homenagear Cuba.
- Quero ressaltar que o enredo dá ênfase à cultura, aos costumes. Não nos aprofundamos no aspecto político-ideológico. Carnaval é informação mas, principalmente, diversão. O povo cubano é muito alegre. É igual ao brasileiro, “caliente”. Este é o lado que vamos mostrar: a sensualidade dos ritmos, a rumba, o cha-cha-cha, a salsa, o merengue. A cultura cubana é muito semelhante à brasileira. A culinária também. Vamos mostrar que, a partir da tomada do poder, o povo é incentivado a se voltar para suas raízes, a ter orgulho delas, retomar sua identidade, esclarece o carnavalesco.
Cleber falou da montagem da escola. “Preparamos cinco carros alegóricos. Chamo a atenção para o primeiro, que traz as figuras de Guevara, Fidel e Jose Martí, líder sul-americano, cujas ideias libertárias se espalharam no continente no século XIX, além de alas que mostram o período de governo de Batista, quando Cuba era um território ocupado por muitos cassinos, sendo a Meca dos turistas jogadores norte-americanos, considerados pelos revolucionários como exploradores do povo cubano”, frisou.
-Estou na Império há 12 anos. Neste ano, a comissão de frente representa a Coroa Imperial e faz reverência a Cuba, homegeada pela escola. A ala das baianas encerra o desfile agradecendo à comunidade o apoio. O samba enredo é de autoria de André Luiz. Contamos com a média de 1500 pessoas nos ensaios. Gravamos um CD, patrocinado pela Liecam e prefeitura. O CD é distribuído a quem vem aos ensaios. Às quartas-feiras, com portões abertos à comunidade e, às sextas-feiras, o ensaio é com bilheteria, a partir das 22h, informou o coreógrafo
O mestre de bateria falou dos números do seu pessoal. “São 130 componentes: 15 tamborins, 15 chocalhos, oito cuícas, e o restante dividido entre surdos, caixas e repiniques. Fomos campeões em 2010 com o enredo “A Luta entre o bem e o mal” e queremos repetir o sucesso em 2012”, disse Igor.
A sinopse preparada pela escola apresenta a tomada da capital Havana pelos revolucionários, da qual um tanque de guerra é o símbolo, e a amizade entre Fidel e o bloco de países comunistas, com as alas que mostram as conquistas sociais após a expulsão de Batista: educação e saúde para todos, o avanço da indústria farmacêutica (não lucrativa) e da biotecnologia, o país se torna referência no esporte, a reforma agrária acaba com a figura do proprietário de terras e o trabalho escravo. a fama e comercialização do charuto, o incremento da pesca, a indústria da cana–de-açúcar, o turismo a locais de luxo, com pontos acessíveis apenas a estrangeiros ricos.
A santeria também vai para a avenida. É o sincretismo religioso entre deuses e orixás de origem africana e os santos católicos, aspecto da cultura cubana semelhante aos cultos afros no Brasil. embora o regime político da Ilha não dê muita liberdade a essas práticas, diferente do nosso país, em que a democracia possibilita a total liberdade de culto.
O carnaval cubano, o cabaré Tropicana e os diversos ritmos quentes da terra, de origem africana, também fazem parte do enredo, com destaque para a rumba, marca de cantores do elenco da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. como Ruy Rey ( El cantante de las Americas...)especializado em rumba e ritmos do Caribe que, em 1950, gravou e consagrou, de sua autoria e Rutinaldo, a rumba “Nana” – Me pediste um beso y yo te di// Me pediste amor y yo te di// Pero matrimonio non te puedo dar//Porque no me gusta trabajar// No Nana...
Em 1947, a rumba se populariza em nosso país na voz de Emilinha Borba, cantora da era de ouro do rádio, que encarnou o ritmo e gravou Escandalosa – Um dia, uma vez lá em Cuba, dançando uma rumba, disseram que eu era Escandalosa//Dancei, e não me incomodei, pois a rumba em si é maliciosa//A rumba é um ritmo louco, que mexe meu corpo assim//Com muchachos sabidos, bem juntinhos de mim// Confessando ao meu ouvido és deliciosa//Escandalosa...
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