Grafitar um paredão na Rua José Fernandes de Aguiar foi um bom motivo para reunir centenas de grafiteiros do mundo inteiro, no bairro Fronteira, durante o último fim de semana. O segundo Kolirius Internacional começou na sexta-feira e foi até domingo (29), deixando como resultado muito mais do que bonitas pinturas.
O evento - realizado com o apoio da Prefeitura - uniu americanos, australianos, equatorianos, peruanos e brasileiros em uma das comunidades carentes de Macaé. Em meio ao colorido que invadiu o bairro, o que mais chamou atenção dos visitantes foi o sorriso no rosto dos moradores, que receberam com muita alegria, renomados artistas que já rodaram o mundo com suas pinturas.
Uma das residências localizada em frente ao muro era de D. Maria, uma paraense, que fez questão de oferecer um prato típico de sua terra natal como presente para os artistas. Mas não foi só ela que teve esse privilégio: muitos moradores abriram suas portas e ofereceram o que tinham em gratidão a beleza que os grafiteiros trouxeram para Macaé.
Enquanto um carro de som animava a festa, o número de pessoa aumentava em frente ao muro e os olhares, cada vez mais sensíveis aos traços que iam surgindo, tentavam desvendar as imagens que eram pintadas na parede. As crianças, curiosas pela técnica de pintura, seguravam as latas de spray e perguntavam tudo que podiam aos grafiteiros.
Um dos artistas mais esperados foi o americano Ortiz, conhecido como Bg 183, ele se encantou pela comunidade e mesmo sem falar português, se comunicava com a vizinhança. Recebeu de presente uma camisa da seleção brasileira, e comemorou o sucesso do evento com um churrasco na casa do novo amigo, Sérgio Silva, um guarda municipal que ficou encantado com as pinturas. “Imaginar o que era esse muro antes, e como está agora, me deixa muito feliz. Antes, era cheio de lixo, e agora, está muito colorido”, disse ele.
Além dos artistas estrangeiro, a comunidade recebeu a visita de uma pesquisadora da Universidade Daito Bunka, no Japão. Kiwa Nakamo veio à cidade especialmente para participar do Kolirius, ela está trabalhando em uma pesquisa sobre arte urbana, e saiu admirada com a iniciativa. Além da pesquisadora, uma equipe de cinegrafistas e produtores também veio a cidade para gravar um filme com o mesmo tema.
O evento organizado pelo artista plástico Marlon Muk, e sua equipe, transformou uma das comunidades carentes de Macaé com traços marcantes, cores fortes e imagens realistas, trazendo para Macaé uma certeza: obra de arte pode ser apreciada em qualquer lugar, no muro, em uma comunidade carente ou em uma galeria de arte.
Quem passar hoje pela rua José Fernandes de Aguiar, não se lembrará mais de um muro sujo onde eram acumulados lixos, mas terá na mente a lembrança de homens e mulheres, que com muita alegria, encheram o bairro com um colorido diferente, com sotaques variados e com idiomas jamais vistos naquele lugar. E para o idealizador desse evento, a motivação principal foi transformar, através da arte o social.
- Esperamos que aqui na fronteira, muita coisa possa mudar a partir desse evento. Não só as paredes, mas a cabeça de cada morador, entendendo que ele, mesmo dentro de uma comunidade carente, é importante para o governo, para as pessoas e para o mundo, completou Marlon.