O que vem depois da Covid-19? Essas sequelas ainda estão sendo estudadas pela ciência e vão além das consequências respiratórias e pulmonares, como fadiga e falta de ar. Pensando nesse panorama, é que servidores públicos de Macaé, vinculados à Secretaria de Saúde, após atuarem na linha de frente de combate à doença, desenvolveram um projeto que faz parte do I Prêmio Servidores Inovadores, na categoria Atendimento ao Cidadão.
Com o tema “Centro de Acolhimento e Reabilitação Pós-Covid – Carp de Macaé”, o trabalho foi vencedor do segundo lugar. A implantação do Centro, que já registrou cerca de 600 atendimentos, se deu através dos funcionários públicos: Nichollas Augusto Ribeiro Martins, Fabiana Paschoal dos Santos, David Teixeira dos Santos e Janaina Marques Barreto.
O Carp já beneficiou pacientes como Marinete Moura, que teve Covid-19 em fevereiro deste ano. Apesar de não ter ficado internada, o período após a doença lhe deixou sequelas como: dores nas articulações, dificuldade de locomoção, dores de cabeça recorrentes e falha na memória. A partir daí, entrou para o programa de Pós-Covid e começou a fazer os tratamentos com pneumologista, neurologista e outros especialistas que cuidaram das sequelas que ficaram.
“Em cerca de 20 dias eu já estava com outro quadro de saúde, praticamente 100% e, então, pesquisadores da UFRJ fizeram comigo a terapia a laser que avalia as questões respiratórias. Quem não conhece esse órgão, que não sabe que esse local existe, fica convivendo com as sequelas dessa doença sem saber que há uma forma de tratar”, comenta a paciente.
Inaugurado em novembro de 2021, o Carp funciona no Centro de Reabilitação Dona Sid Carvalho, onde fica o Centro de Especialidades Médicas Dona Alba, no Centro da cidade. O objetivo da unidade é acolhimento/atendimento aos usuários do Sistema Público de Saúde (SUS), com sequelas decorrentes da Covid-19.
Segundo Nichollas Augusto, representante do projeto, a adoção do modelo descentralizado de gestão em saúde tem como objetivo estabelecer o fluxo de encaminhamento em rede, utilizando o programa de acolhimento e sistema de regulação próprio para as especialidades médicas e exames.
“No Carp é possível realizar avaliações, encaminhamentos e tratamentos especializados dos indivíduos com sequelas na saúde física ou mental em decorrência do vírus para atendimento ambulatorial na rede de Atenção Primária à Saúde de Macaé, garantindo dessa forma, maior celeridade e, principalmente, humanização na oferta dos serviços públicos de saúde”, frisa Nichollas.
O projeto é realizado e desenvolvido pela Coordenação da Divisão Especial de Fisioterapia e Reabilitação de Macaé, por meio da Desconcentração Administrativa após aprovação da Resolução CMS/Macaé 008/2021 do Conselho Municipal de Saúde.
No Carp há uma equipe multidisciplinar composta por clínico geral, pneumologista, fisioterapeuta, assistente social, psicólogo, entre outros profissionais.
Fabiana Paschoal dos Santos é uma das autoras do projeto e assistente social do Carp. Ela conta que, através do serviço social, sabe-se mais sobre o paciente e sua história de vida, entendendo de que forma foi afetado pela Covid e, após minuciosa análise, esse indivíduo é encaminhado exatamente para onde precisa, para ser tratado da melhor e mais eficaz forma possível.
“Realizamos bioimpedância, exame que analisa a composição corporal indicando a quantidade aproximada de músculo, osso e gordura. O uso do laser com fotobiomodulação (em baixa potência) para recuperação dos tecidos em desequilíbrio e para os casos de fadiga e alteração de olfato e paladar; e também a análise genômica, ferramenta utilizada para estudar e descobrir novos genes de doenças. Além disso, a própria reabilitação do corpo é feita através da fisioterapia”, descreve Fabiana.
A medicina explica que a ‘tempestade inflamatória’ causada pelo vírus libera uma série de substâncias que atacam órgãos variados e dificulta a recuperação. O paciente que passou pela Covid antes de retomar suas atividades normais, precisa recuperar sua funcionalidade e isso exige um esforço multidisciplinar no pós-alta. E é justamente esse trabalho multidisciplinar e integrado que o Carp realiza. Qualquer pessoa que já tenha tido Covid pode receber o atendimento, basta apresentar um resultado/comprovante de que teve a doença. O acesso é facilitado através do Instagram e Whatsapp.
David Teixeira dos Santos, coordenador do Centro de Reabilitação Dona Sid Carvalho e que também integra a equipe, conta que as pessoas que buscam a reabilitação ainda estão tentando entender o contexto que envolve a doença, principalmente depois de tê-la vivido. A ideia do Carp é fazer o primeiro contato e encaminhar para atendimento especializado depois que ele passa pelo serviço social e acolhimento.
"Antes de mais nada pensamos no atendimento humanizado. O paciente quando chega aqui é assistido e encaminhado, não fica perdido na rede aguardando sem saber para onde vai, porque temos uma resolução própria. São tantas histórias, tantos casos, tantas situações vividas. Este lugar é a esperança de muita gente", finalizou David.